Dia das (des)LIBERDADEs

Celebramos este ano os 35 anos da revolução dos cravos. Com todas as controvérsias muito ao jeito da voracidade da comunicação social, mais uma vez assistimos ao mosaico diversificado do país real. Como um rio que corre a diversas correntes no seu leito, também o 25 de Abril serviu diferentes conveniências.

A par das monótonas e solitárias cerimónias oficiais, da cassete repetitiva da direita que insiste em acusar a revolução de os haver espoliado – que bem os entendemos – e das bernardas da esquerda, retivemos alguns flashes deste Portugal autêntico.

Primeiro, evidenciou-se um avolumar dos que se alhearam completamente da efeméride para se dedicarem ao ócio ou às romarias dos centros comerciais. Outro olhar recaiu nos estóicos que aderem a eventos desportivos e aclamam a revolução. No entanto, este ano, houve dois retratos que ficarão para a posteridade pela persistência de um Portugal que já Eça havia testemunhado. Um retrata o Portugal conservador de aspirações moralistas e que se afirmou em Santa Comba Dão. Todo o seu sucesso deveu-se, claro está, à festarola com comes e bebes «ajuntou povinho como há muito não via» para compor a praça. A outra, com a religiosidade beateira, estendeu-se até à capital do Império Romano, arregimentando o rei, os enjeitados e seus correligionários, dando-lhes mais um precioso momento para aparecerem no boneco.

Ainda graças à canonização de Nuno Álvares Pereira, dizia uma idosa em resposta à avidez de um jornalista: «uns dizem que nasceu aqui, outros que nasceu em Cernache. Não sei, não me recordo, sabe, não é do meu tempo». Estas percepções da intemporalidade dos factos na história caracterizam-nos como portugas. Importante são as sensibilidades arreigadas no subconsciente nacional que têm que «vozeirar», seja pela vox populi, seja pelos emplastros que teimam em dominar os programas de opinião das televisões.

Como denominador comum a todas estas idiossincrasias impõe-se a liberdade ganha com esforço na madrugada de 25 de Abril de 1974, quer eles queiram, quer não.

4 comentários:

Joana disse...

A liberdade, já todos nos habituamos a ela mas, penso que por vezes existe liberdade a mais..

Diogo disse...

O famoso e tão falado dia da liberdade...

Rita Cambim disse...

Criticas inteligentes surgem quando o que criticamos também é de facto inteligente... Sobre o 25 de Abril, muito se disse, diz e dirá... eu não estava cá para ver e como para o bem e para o mal cada vez mais acredito no que vejo... vejo um pais cada vez mais "aportuguesado" e pequenino, no qual as pessoas perdem cada vez mais o sentido critico e acima de tudo o de oportunidade... posso apenas reger-me pelo que senti nesse dia para tentar exprimir/ contrapor o que está acima (d)escrito: questionei... questionei-me principalmente acerca da possibilidade de aquilo que estava a ser celebrado poder ser em parte "one big lye", a liberdade é boa... quando todos a podem gozar e principalmente quanto não nos mentem... temos a liberdade e o direito de saber(por exemplo) em que se gastam os nossos impostos... no entanto, como para o bem e para o mal, o facto é que temos todos que "levar" com a madrugada dos capitães e da grandôla... "cá estamos", e não me gabando disso, fui uma das consumistas a virar as costas aos ideais de Abril(com os quais concordo) e a ir pros centros comerciais... fazer o quê? ver montras... porque somos todos revolucionários... mas também somos "pobrezinhos"!

Anónimo disse...

Por acaso, fiquei baralhada com aquela do Condestável...
Por acaso, não fiquei baralhada com Santa Comba Dão. Claro como vinho branco, daquele fraco...
Por acaso, senti a falta de Abril... Abril foi um namoro com toda a gente, foi sorrir na rua, dar os bons dias a todos, velhos, novos, feios, bonitos... Abril foi um tempo que muitos nunca experimentarão... que pena não saberem o que são as saudades de Abril!
Lena