RELAÇÕES

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Passam os anos e as relações acumulam-se. Vamo-nos dando conta de que estamos mais velhos, mais experientes, melhor preparados e quase sempre mais enriquecidos, através dos laços desenvolvidos. Os amigos da rua, alguns dos quais mudam de casa muito cedo deixando apenas recordações muito ténues que se confundem com a imaginação, os colegas que aprendem connosco a escrever as primeiras palavras, os que se formam ao nosso lado e, claro, os colegas de trabalho. Há pessoas que guardamos a sete chaves, que podem até não ser aquelas que mais conviveram connosco, mas cuja relação foi marcante, por um motivo ou outro, e às vezes até são recordações inadvertidas, resultantes de experiências más, que não conseguimos apagar.

As pessoas ensinam-se mutuamente a agir e reagir. Tornamo-nos mais autênticos, construimos a nossa identidade com base naquilo com que nos identificamos. As 'gentes' são o reflexo mais próximo que temos das nossas próprias acções e, com sorte, é através uns dos outros que acabamos por rejeitar o que nos desagrada e aproveitar o que reconhecemos como sendo bom, que é como quem diz a não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam, por exemplo.

Isto obriga a que nos respeitemos, não a que tenhamos de gostar de toda a gente. Gente que gosta de toda a gente não existe e é patético tentarmos todos ser Medardos Bons* exactamente por não sermos metades, mas inteiros.

É por isso que, sem ressentimentos nem rancores, encolho os ombros à colega que, com voz afectada e melosa, de sorriso fácil e ternurento, se dirige a mim para me pedir os contactos telefónicos para um dia mais tarde, talvez... Sim talvez, respondo com um sorriso amarelo que não consigo disfarçar. Volta-me as costas e regressa ao lugar dela onde ficará por mais uns dias para depois se despedir sem que, estou segura, voltemos a cruzar-nos. Para que raio me interessa o contacto dela se sei que nada em si me aqueceu cá dentro? Aprendi, só. Foi uma relação de aprendizagem humana e não um laço afectivo consistente.

Por isso, muita sorte e tudo de bom no teu caminho que seguirá, certamente, coordenadas diferentes das minhas.

PUBLICADA POR FAVARICA em 7 DE MAIO DE 2009

2 comentários:

Joana disse...

Mais um texto muito bom :)
Começo a ficar "colada" ao blog da favarica !

Diogo disse...

Quantas vezes, me encontro a pensar nestas mesmas coisas..
Quantas vezes me sinto mal a pensar naquele futuro vazio..
Quantas vezes fico eufórico por ver pessoas de quem gosto ao meu redor, muitas nem têm uma boa relação nem imagem de mim mas só de saber que continuo junto delas já é um motivo forte para me orgulhar em as ter conheçido.