As emoções na tomada de decisão.

in Revista Visão, 11 a 17 de Fevereiro de 2010

A neurociência tem vindo a mostrar que também nas nossas cabeças, com raras excepções, não há preto e branco, mas, antes, cinzento.

António Damásio, radicado nos Estados Unidos da América que, analisando vários pacientes com lesões em regiões cerebrais relacionadas com as emoções, percebeu que estas são essências [nas tomadas de decisão].

Jonah Lehrer, ex-investigador nesta área afirma: «Não existe uma solução universal para o problema da tomada de decisão»; «o mundo real é demasiado complexo. Às vezes precisamos de racionalizar as nossas opções e analisar cuidadosamente as possibilidades. Outras vezes necessitamos de dar ouvidos às nossas emoções. O segredo reside em saber quando usar estes diferentes estilos de pensamento. Precisamos de pensar continuamente sobre a forma como pensamos»

mesmo quando pensamos que tomámos uma decisão puramente racional, a emoção está lá por trás, «influenciando secretamente a avaliação»

Se tivermos uma lesão cerebral num sector relacionado com as emoções, há, obrigatoriamente, um problema no campo da decisão

um caso amplamente estudado por António Damásio: Elliot, um paciente operado a um tumor na cabeça, manteve o mesmo nível de quociente intelectual depois da cirurgia, mas passou a ser incapaz de tomar decisões […] a lesão tinha afectado o seu córtex orbifrontal […] esta parte do cérebro é responsável por integrar as emoções viscerais no processo de tomada de decisão […] liga as emoções geradas pelo cérebro ´primitivo`, com a raiz cerebral e as amígdalas, que se encontram no sistema límbico, ao fluxo do pensamento consciente

O primeiro grande trunfo de um bom decisor é a experiência. Sem o conhecimento é impossível acertar no caminho

Nos momentos cruciais, o cérebro vai buscar à memória – a base em que se apoiam todos os processos de decisão – a informação arquivada em situações anteriores

Jorge Araújo, ex-treinador de basquete e, actualmente, consultor na área da liderança […] exemplifica «Quantas mais decisões as pessoas tiverem tomado anteriormente, maior será a sua capacidade de decidir»

Em situações de grande tensão, o cérebro escolhe o caminho mais fácil, poupa energia seguindo o princípio físico da energia mínima, e opta pela rotina

Nas crianças até aos 6,7 anos, o peso da rotina é muito elevado, por isso é mais eficaz impor a regra: dizer, por exemplo, ´Nunca atravessar quando o sinal estiver vermelho`, em vez de apresentar a excepção - ´Se estiver vermelho, mas não vierem carros, pode passar`

Outro aspecto que sustenta um bom decisor é a sua capacidade de lidar com a adversidade. «A oposição é um factor de progresso», sustenta Jorge Araújo

Para acertar é preciso errar – muitas vezes. «Sem se atrever a falhar, ninguém aprende»

É importante que os miúdos possam experimentar e enganar-se. O erro é a forma mais eficaz de aprendizagem

o cingulado […] a detecção de erros ou a capacidade de aprender com base no reforço negativo. Alterações nesta estrutura tornam as pessoas mas atreitas à dependência de drogas ou do álcool. Não conseguem modificar o seu comportamento, mesmo quando se revela autodestrutivo.

é preciso ter consciência dos erros , interiorizá-los. Por isso, os campeões de xadrez analisam, a posteriori, cada jogada até ao cheque-mate. A auto-crítica é o melhor caminho para o aperfeiçoamento de tal intuição, baseado na experiência.

O pensamento exige intuição, pois é ela que nos permite processar toda a informação que não podemos compreender directamente.

Sara Sá

in Revista Visão, 11 a 17 de Fevereiro de 20010

Entrevista A António Damásio, cientista. «A emoção vem da memória evolutiva»

não existe memória sem emoção. E ainda que, sem emoção, não há decisão.

Grande parte das decisões não é tomada instantaneamente. Tudo depende daquilo que está em jogo. […] Existe um espaço de decisão consciente, em que os indivíduos analisam tudo aquilo que sabem sobre um determinado problema e ponderam, de forma lógica, o que devem ou não fazerem. Essas decisões são influenciadas pela nossa memória, tanto no que diz respeito aos factos como à nossa própria vida, pelas emoções que vivemos no passado e, ainda, por muitos outros factores não conscientes.

As reacções emocionais vêm da nossa memória evolutiva, das coisas apreendidas pelos nossos antepassados, através da história da evolução. Não se trata da aprendizagem directa.

Nós temos vários tipos de memória. A que vem de toda a evolução e que se exprime, sobretudo, sob a forma de emoções, e a que foi adquirida ao longo da nossa vida.

A emoção tem muito mais controlo das reacções instantâneas, automáticas, do que das deliberadas, em que nós podemos pensar sobre o que uma determinada emoção nos levaria a fazer

As reacções emocionais só são mais acertadas quando se trata de situações sobre as quais temos um enorme conhecimento, uma grande experiência ou, ainda, em ocasiões de perigo. […] Tudo depende da experiência, do tempo que temos para tomar a decisão.

Se pusermos uma pessoa que não sabe pilotar a tomar decisões emocionais, o avião cai.

«Podemos treinar a capacidade de decisão?» É isso que fazem as boas escolas. Dão aos estudantes o conhecimento e o exercício da lógica, que lhes vai permitir tomar decisões.

1 comentário:

Nani disse...

«Quantas mais decisões as pessoas tiverem tomado anteriormente, maior será a sua capacidade de decidir» então é isto.