Um Natal com tradição


Este ano, proponho vivermos esta quadra com mais tradição, incluindo o presépio cheio de figuras, sem esquecer o anjinho e o pastor com as ovelhas. Tudo isto porque acredito ser um caminho, uma força contrária ao pessimismo dominante, que teima em abafar as esperanças das pessoas.
Nestes últimos anos, temos assistido a um envergonhar do humanismo, valorizando-se um cool de modismos tecnológicos e máscaras narcísicas.
Na realidade, fartei-me há muito dos brinquedos fúteis que alienam a inteligência das nossas crianças e dos nossos jovens, atirando-os para a solidão ou fechando-os num mundo de fantasia duvidosa e de autosatisfação fugaz. Temo-nos alimentado na feira de brinquedos que, com cores e efeitos mágicos, vão preenchendo momentos do quotidiano adormecido sem, contudo, darem sentido à vida no seu global.
Nesta mesma gula se embrenham os adultos em seguir ditames de publicidades, numa obsessiva perseguição de modelos gastos e escravizantes.
É esta a hora de mudança. Importa parar e flectir num sentido humanista, deixando cair a máscara narcísica que nos cega.
Para alcançarmos este objectivo, exige-se o encontro com o outro que se senta a nosso lado, que está disponível para partilhar as nossas angústias, alegrias, raivas e tristezas. É urgente trazer para o centro do nosso mundo o humanismo, o calor do abraço, o sabor do beijo, a carícia da palavra e tudo numa gratuitidade de troca.
Mas esta caminhada não é peregrina nem solitária. Ainda agora, milhões de americanos falaram pela voz de Obama, que no seu discurso de vitória disse o evidente: «façamos um pedido a um novo espírito […] de responsabilidade, em que cada um se ajuda e trabalha mais e se preocupa não só com si próprio, mas um com o outro […] não somos inimigos, mas amigos. Embora as paixões nos tenham colocado sob tensão, não devem romper os nossos laços de afecto». Quero ainda sublinhar a conclusão do seu discurso, quando sublinha: «E quando nos encontrarmos com o cepticismo e as dúvidas e com aqueles que nos dizem que não podemos, responderemos com esta crença eterna que resume o espírito de um povo: Yes, we can».
Nada desta consciência humanista é nova. Na mesma comunhão, relembro o discurso de Charlie Chaplin no seu filme O grande Ditador, de 1940, que já alertava, com mais veemência, para os mesmos vícios e defeitos do homem moderno: «pensamos demais e sentimos muito pouco [...] mais do que de máquinas precisamos de humanidade».
Quero, portanto, reafirmar um Natal tradicional. Para os que se reforçam na fé, será um renovar de laços e reavivar a esperança no nascimento de uma criança, acrescida do seu carácter regenerador e salvador. Já os que não crêem podem sempre deixar-se seduzir pela narrativa e viver o conto numa representação conjunta com os mais novos, deliciando-se a bincar no faz de conta durante a construção do presépio.
A todos um bom Natal.