A familiaridade dos adolescentes atuais com a tecnologia, que faz deles nativos digitais, não os torna automaticamente habilitados para compreender, distinguir e usar de modo eficiente o conhecimento disponível na internet. Pelo contrário, os dados sugerem que eles são, em grande parte, incapazes de compreender nuances ou ambiguidades em textos online, localizar materiais confiáveis em buscas de internet ou em conteúdo de e-mails e redes sociais, avaliar a credibilidade de fontes de informação ou mesmo distinguir fatos de opiniões.
As conclusões foram apresentadas pela OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com base no relatório Leitores do Século 21 - Desenvolvendo Habilidades de
Alfabetização em um Mundo Digital.
O relatório mostra as habilidades de
interpretação de texto dos alunos de 15 anos
avaliados no Pisa. Na
média dos países da OCDE, esse índice era de 47%. O que mostra que, mesmo no
grupo de países mais desenvolvidos, mais da metade dos estudantes de 15 anos
não demonstrou, em média, capacidade de fazer distinção entre fato e opinião.
Segundo o estudo, apenas metade dos
estudantes em países da OCDE disseram ser ensinados na escola para reconhecer
se a informação que estão lendo é enviesada, e 40% dos alunos nesses países
foram incapazes de reconhecer os perigos de se clicar em links de e-mails de
phishing, por exemplo. As habilidades de navegação foram consideradas altamente
eficientes para apenas 24% dos estudantes na média da OCDE.
As consequências disso são profundas
para a inserção no mundo do trabalho e para o exercício da cidadania, uma vez
que pessoas que não sejam capazes de compreender textos plenamente estarão, em
teoria, menos aptas para ocupar empregos de alta complexidade e, ao mesmo
tempo, serão presas mais fáceis para o ambiente de desinformação que floresce
na internet e nas redes sociais. "Ter nascido na era digital e ser um
nativo digital não significa que você vai ter habilidades digitais para usar a
tecnologia de modo eficaz", afirmou no seminário Andreas Schleicher,
diretor de educação da OCDE.
Os resultados também mostram que,
apesar de sua crescente familiaridade com a tecnologia, os jovens não
necessariamente aprendem instintivamente as habilidades necessárias para usar
essa tecnologia para obter informações confiáveis.
De modo geral, o maior acesso a
tecnologia entre os jovens nos últimos anos não se traduziu em mais educação
mediática, disse Schleicher: os índices de alfabetização digital dos jovens
evoluíram pouco nas avaliações do Pisa feitas entre 2000 e 2018, apesar das
enormes mudanças sociais e digitais vividas pela comunidade global nesse
intervalo de tempo.
Mais do que contato constante com a
tecnologia, Schleicher defendeu que são a "aprendizagem tradicional"
e o engajamento de professores que farão a diferença em dar aos alunos a
capacidade de entender diferentes perspectivas em um texto e serem capazes de
identificar nuances e opiniões.
O relatório mostra que, em sistemas
educacionais nos quais essas habilidades digitais são ativamente ensinadas,
estudantes pareceram mais capazes de distinguir fatos de opiniões. Mas
Schleicher destacou que é um problema que ultrapassa os muros da escola e
exaltou o trabalho de países que já têm uma cultura mais enraizada de leitura e
alfabetização, como Dinamarca, Finlândia, Estônia e Japão.
O que se sabe é que o educador tem um
papel central nisso, à medida que mudam as habilidades exigidas dos estudantes:
no século 20, esperava-se que um aluno obtivesse conhecimento de fontes
pré-curadas, como enciclopédias. Hoje, ele precisa aprender a distinguir o que
é relevante entre milhares de resultados de uma busca no Google; precisa ser
capaz de construir conhecimento e validá-lo, opina a OCDE.
"Os
educadores precisarão ser grandes mentores, mobilizadores e guias" nesse
processo, afirmou Schleicher. OCDE
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